A Cannabis medicinal cresceu muito na última década pois seus efeitos são realmente inigualáveis. Mas no passado foi perseguida por 2 motivos econômicos: por ser encontrada na natureza não pode ser patenteada… Sem o interesse financeiro da grande indústria farmacêutica (que move o mundo) houve lobby no congresso americano para ser taxada como veneno em 1906, afinal era um ótimo remédio que competia com as drogas cheias de efeitos colaterias da "Big Pharma". Em 1930 acabou sendo proibido o seu cultivo pois o cânhamo é uma excelente fibra têxtil, mas competia com a indústria do algodão e de tecidos sintéticos. Assim, a Cannabis foi banida, mesmo com o Conselho Federal de Medicina Americano se opondo à proibição na época... Com isso as pesquisas foram suspensas e o uso medicinal também. Como sempre, o que manda é o interesse econômico, não a saúde da população... Não tenho a menor dúvida que se pudesse ter sido patenteada seria o remédio mais vendido da história há décadas!
Felizmente milhares de estudos ajudaram a dar o devido valor à Cannabis Medicinal e hoje milhões de pacientes se beneficiam do tratamento. E quanto maior a demanda, menor será o preço e maior o número de pesquisas...
Segundo o MarketsandMarkets.com, o mercado de Cannabis valia em 2020 nada menos do que 20.5 bilhões de dólares, e a projeção é que em 2026 alcançará 90 bilhões de dólares! Ela veio para ficar, e você deve aprender mais, abrir a cabeça e quebrar o preconceito. Se gostar do post, ajude a compartilhar!
Dados Históricos:
Cannabis é cultivada para a produção de fibras têxteis desde 4000 a.C.
Na China em 2900 a.C. era usada com fins medicinais (relatos de uso pelo Imperador ShenNeng para tratar reumatismo e memória fraca).
Na Índia em 1000 a.C. era usada como analgésico, anti-inflamatório, ansiolítico, anticonvulsivante.
No Brasil entrou com os escravos em 1500 (fumo-de-Angola).
Em 1840 o Dr. William O’Shaughness a introduziu na Medicina Ocidental.
Nos séculos XIX e XX era usada em medicamentos patenteados.
A Rainha Vitória usava para enxaqueca.
Em Israel, 1964, Dr. Raphael Mechoulam isolou o THC e CBD, mas não sabia onde essa molécula se ligava para exercer seus efeitos.
No Brasil, 1973, Dr. Carlini contribuiu muito à pesquisa de Cannabis para epilepsia, ganhando destaque mundial.
Em 1988 descobriu-se receptores canabinoides (CB1) em cérebros de camundongos
Em 1990 descobriram esses receptores no ser humano. Mas se temos receptores, não é para uso exclusivo de substâncias exógenas, certo? Então começaram a pesquisar qual substância fabricada no nosso corpo se ligava a esses receptores…
Foi assim que, em 1992, Prof. Mechoulam e Lumir Hanus descobriram a Anandamida (batizada assim pois Ananda em sânscrito significa alegria, bem-estar, sendo Anandamida a "molécula do bem-estar") e o 2-AG (2-Arachidonil-glicerol) , nossos endocanabinóides, produzidos a partir do Ácido Aracdônico (Ômega 6).
No Brasil, 2015, Anvisa libera o uso de Cannabidiol para uso medicinal.
Em 2019 o pai da pesquisa da Cannabis medidinal, Dr. Raphael Mechoulam isola um novo princípio, o éster metílico do ácido canabidiólico (EPM301), mais potente que THC e CBD, muito promissor pois não tem efeitos colaterais negativos conhecidos. Vamos ficar de olho nessa novidade!
Para entendermos como a Cannabis age no nosso organismo falarei sobre Fisiologia e Farmacologia, assuntos maçantes para alguns… mas não desista… ao entender como as coisas funcionam duvido que você ache entediante.
Sistema Endocanabinoide
O sistema endocanabinoide está envolvido com controle de apetite, metabolismo, digestão, sono, relaxamento, humor, prazer, analgesia, memória, neuro proteção, imunidade. Interage com todos os sistemas do nosso corpo. Os receptores canabinoides CB1 e CB2 estão espalhados pelo corpo todo (ver figura abaixo). Os receptores CB1 se encontram principalmente no cérebro (mas também na tireóide, adrenais e sistema reprodutor) e são responsáveis principalmente pelos efeitos psicoativos, participando no desenvolvimento neuronal, cognição, regulação dos sistemas de recompensa, humor e dor. Os CB2 estão mais na periferia (órgãos linfóides, células imunológicas, pele) e são responsáveis pelos efeitos anti-inflamatórios, imunológicos e de analgesia. Na maior parte dos outros órgãos e tecidos encontramos os 2 receptores juntos.
Produzimos 2 tipos principais de canabinoides endógenos: Anandamida (ou AEA), e o 2-AG (2-Arachidonil-glicerol). As enzimas que degradam esses endocanabinóides são: FAAH (degrada a Anandamida) e a MAGL (degrada a 2-AG). Então, se inibirmos estas enzimas teremos acúmulo de Anandamida e de 2-AG. Há anos a Big Pharma corre atrás de drogas que façam isso... Sabe quem inibe a FAAH? Cacau e Maca peruana! Agora você entende porque chocolate é tao prazeroso…
OBS: Na verdade essa explicação é bem simplista. Existem muitos outros receptores no Sistema Endocanabinóide (TRPV1, GPR55, TRPA1) que podem ser modulados com muitas outras substâncias. Por exemplo, o Omega 3 (EPA e DHA) tem afinidade por receptores CB1 e CB2 (e também inibe outras vias inflamatórias, por isso é um excelente anti-inflamatório). O óleo de Copaíba tem afinidade pelos receptores CB2, assim como o Mitidol. Já o Palmitoylethanolamide (PEA) ativa receptores GPR55. Olha o leque de estratégias terapêuticas que se abre!
Os nossos Endocanabinoides regulam:
Neurogênese e neuroplasticidade (aumento do número de neurônios e de sinapses entre eles),
Imunomodulação (aumenta imunidade, reduz doenças auto-imunes)
Reduzem inflamação
Apetite/saciedade
Humor
Temperatura corporal
Resposta à dor (analgésicos)
Capacidades motoras
Resposta ao stress
Sono
Cognição e memória
Reduzem a resistência insulínica
Motilidade do trato gastrointestinal
Relaxamento muscular
Broncodilatação
Vasodilatação (reduzem pressão arterial)
Aumentam ocitocina (hormônio que aumenta empatia e conexão entre seres vivos)
Reduzem histamina (peptídeo liberado nas alergias).
Não é incrível?
Sabe o que aumenta nossos endocanabinoides e nos confere esses efeitos descritos???
Exercício físico!!! Por isso sentimos melhora de dores e sensação de bem-estar quando nos exercitamos.
Omega 3 e 6: o primeiro forma a estrutura dos receptores canabinoides e o segundo é precursor de endocanabinoides. Como a natureza é perfeita... uma excelente fonte é a semente de cânhamo... Ou seja, ao consumi-las você ingere os precursores dos receptores. Outras fontes de ômega 3: peixes, algas, castanhas, sementes, ovos. E de ômega 6: ovos, óleos vegetais, aves. O excesso de ômega 6 no entanto é pró-inflamatório. Deve-se priorizar uma boa relação ômega 3: 6 (1:4).
Dieta Mediterrânea
Fitoquímicos
Probióticos: lactobacillus aumentam a expressão de receptores CB2.
Yoga, Meditação, Frio, Acupuntura
Vitamina D
Terpenos como Cariofileno (encontrados no anis, cravo, alecrim, manjericão, orégano, pimenta preta, semente de cânhamo) e Kaempferol (maçãs e amoras).
E sabe o que reduz nossos endocanabinoides e receptores, reduzindo os benefícios citados acima?
Stress e privação de sono (reduzem Anandamida e aumentam 2-AG, causando aumento da fome)
Excesso de cafeína
Excesso de Fitocanabinoides
Excesso de Ômega 6
Inflamação
Radicais livres
Menopausa / Andropausa
Agora você já sabe como nossos canabinoides endógenos (produzidos no nosso corpo) agem.
Mas na natureza também encontramos fitocanabinóides que quando entram no nosso corpo, se ligam aos mesmos receptores dos endocanabinóides, exercendo os mesmos benefícios:
Fitocanabinoides
Existem 3 espécies de plantas que deram origem às variações que encontramos hoje:
Cannabis Sativa : maior teor de THC, mais energizante;
Cannabis Indica : maior teor de CBD- cannabidiol, mais relaxante;
Cannabis Ruderalis : menos THC, mais CBD (não tão usada, mas promissora).
Na planta cannabis temos 545 compostos, sendo 140 fitocanabinóides (que se ligam aos nossos receptores endocanabinóides CB1, CB2 e outros). O THC e CBD são apenas 2 deles! Flavonóides, terpenos, ácidos graxos, etc agem sinergisticamente ampliando os efeitos medicinais da planta (efeito Entourage ou Comitiva). Por isso usar CBD isolado não é tão vantajoso. O ideal é usar Broad spectrum (amplo espectro, com diversos fitoquímicos mas sem THC) ou Full spectrum (espectro cheio, com THC).
O THC (Delta-9-tetrahidrocanabinol) é responsável pelo “barato” (efeitos psicotrópicos), é um agonista parcial dos receptores CB1 (principalmente no cérebro) e CB2 (no resto do corpo), ou seja, se liga aos recetores mas os ativa apenas parcialmente (o que confere efeito protetor quando pensamos nos efeitos psicoativos). Também se liga a receptores opióides (analgesia), sendo modulador alostérico positivo do receptor µ, ou seja, THC amplia os efeitos analgésicos dos opióides endógenos (beta endorfina) e exógenos (morfina, codeína etc) quando esses se ligam aos seus receptores.
O Cannabidiol (CBD) se liga a receptores CB1 e CB2 no corpo todo, mas é um modulador alostérico negativo, ou seja, reduz os efeitos das moléculas que se ligam aos receptores CB1 e CB2 (como THC), funcionando como um freio. Isso é um mecanismo de proteção para suavizar os efeitos do THC. Não tem efeitos psicoativos do THC, mas tem mais benefícios medicinais pois aumenta indiretamente os níveis de endocanabinoides (por aumentar sua síntese e inibir sua degradação) e também interage com outros receptores não-canabinoides, como os de serotonina, adenosina, opióides, acetilcolina, glicina, entre outros, ajudando a regular humor, dor, sono e comportamento social.
O Cannabigerol (CBG) está crescendo e tem futuro promissor. É o precursor do THC e CBD. Mas é o mais difícil e portanto caro de se obter. Tem afinidade pelos receptores CB1, CB2, TRPV, GABA (nosso neurotransmissor calmante) e reduz stress oxidativo e neuroinflamação, anti diabetes, antidepressivo e alivia sintomas de quimioterápicos e da Psoríase. Enquanto o CBD atua mais modulando nossos endocanabinóides, o CBG atua mais nos receptores. CBG é mais analgésico que CBD. CBG é mais estimulante e CBD mais calmante, mas os dois têm efeito sinérgico muito bom juntos. CBG é timo para Glaucoma. Excelente Relaxante Muscular também! Tem efeito Antibacteriano, Neuroprotetor. Pode aumentar o apetite, menos que THC. Cada vez mais o mercado está lançando preparações com ambos.
O Cannabinol (CBN) Foi o 1o fitocanabinóide a ser isolado em 1930, mas ainda muito pouco estudado. Está presente em plantas mais velhas, pois é produto da degradação do THC com o tempo. Estudos mostram efeito Bactericida, Neuroprotetor, Anti Glaucoma, Anti-inflamatório, Supressor de Auto-imunidade, melhora saúde óssea e é Estimulante do Apetite (efeito desejado por exemplo em pacientes em quimioterapia que não querem o efeito psicoativo do THC). Não tem efeito sedativo per se, mas sabe-se que plantas mais velhas têm maior concentrações de terpenos que possuem esse efeito (novamente o efeito entourage). Quando associado ao THC potencializa bastante os efeitos desse. Também potencializa os efeitos analgésicos do CBD quando associado.
Recentemente o Ácido Cannabidiólico (CBDA) e o Ácido Cannabigerólico (CBGA) demonstraram impedir a entrada do SARS-CoV-2 nas células humanas.
O Cannabichromene (CBC) é o caçula... Parece ter efeitos similares ao CBD, sem efeito psicoativo, bom em casos de câncer, Neuroproteção e Analgésico. Vamos ficar de olho...
O Delta - 8 - THC ganhou popularidade nos EUA pois tem efeitos parecidos (mas mais leves) do que o proibido THC. Promove euforia, analgesia, relaxamento.
Aqui falarei sobre os 2 mais estudados, o CBD e o THC:
Efeitos DESEJÁVEIS do CBD:
Anti-inflamatório
Anticâncer (reduz crescimento tumoral, reduz angiogênese do tecido neoplásico, reduz metástases)
Ansiolítico (reduz ansiedade)
Sonolência (ótimo para insônia)
Redução de memórias traumáticas (bom para PTSD- Stress pós traumático)
Antidepressivo
Analgésico (ótimo para dor crônica). Temos receptores CB1 e CB2 em toda via nociceptiva. O CBD inibe a dor em vários planos. É excelente em pacientes que já desenvolveram tolerância a opióides (chegaram na dose teto e não têm mais a analgesia que costumavam ter).
Aumenta libido
Anticonvulsivante: excelente para casos refratários aos anticonvulsivantes tradicionais.
Antiemético (melhora náuseas, útil em pacientes em quimioterapia)
Antiespasmódico (reduz contração da musculatura lisa das vísceras, reduzindo por exemplo a peristalse- movimentos propulsores dos intestinos, útil em doenças inflamatórias intestinais)
Melhora artrite reumatóide
Reduz Resistência Insulínica
Neuroproteção (bom para Alzheimer e Parkinson)
Redução do Apetite e da Fome Emocional (ansiedade que leva à compulsão alimentar)
Melhora endometriose
Reduz Glaucoma
Melhora formação óssea
Modulação imunológica: melhora imunidade e reduz respostas exacerbadas (doenças auto-imunes, COVID-19). No caso da COVID-19 reduz a entrada do vírus nas células, através do receptor ACE, reduz citocinas inflamatórias, inibe transcrição reversa e replicação do DNA.
Efeitos DESEJÁVEIS do THC:
Anti-inflamatório
Ansiolítico (reduz ansiedade) em baixas doses (inibe Glutamato)
Relaxamento muscular
Tratamento dos sintomas da Esclerose Múltipla
Melhora Dor Neuropática
Antiemético (melhora náuseas e vômitos)
Aumenta a fome : a “larica”, bom para tratar anorexia (falta de fome) de pacientes com doenças crônicas.
Sonolência (bom para alterações do sono)
Bom para Alzheimer
Bom para sindrome de Tourette.
Efeitos INDESEJÁVEIS do CBD (geralmente só ocorrem em doses altas >600mg/dia):
Sonolência (ótimo para ser usado à noite, mas em alguns pacientes a sonolência pode atrapalhar as atividades se tomado durante o dia)
Hipotensão (redução da Pressão Arterial)
Redução do Apetite: ruim em pacientes abaixo do peso
Aumento de enzimas hepáticas em altas doses
Efeitos INDESEJÁVEIS do THC:
Em doses altas inibe GABA, causando Ansiedade, Paranóia, Déficit de atenção, alterações de percepção. Muitos procuram esses efeitos no uso recreacional da Cannabis. Mas em pacientes esquizofrênicos pode causar surtos. O CBD não apresenta esses efeitos, portanto em pacientes que apresentam esses sintomas não uso THC associado. Até 5% da população pode ter psicose induzida por THC.
Aumento de fome, podendo gerar aumento de peso.
Há relatos de Depressão.
Boca seca (suco de limão ajuda)
Tosse, bronquite (em vias inalarias)
Visão borrada, vasodilatação (olhos vermelhos), dor de cabeça
Alteração de coordenação motora
Redução de aprendizado
Alteração do desenvolvimento cerebral em crianças e adolescentes
Hipotensão Postural
Hiperemese (náuseas e vômitos) com sobredose
Raciocínio mais lento
Como na Medicina Funcional combatemos a causa das doenças… e 99% das vezes a causa é a inflamação, pode-se ver porque a Cannabis Medicinal é uma arma tão importante no nosso arsenal terapêutico. Ao estimularmos os receptores CB2 reduzimos a inflamação sistêmica, e com isso evitamos: cancer, diabetes, depressão, Alzheimer, ansiedade, doenças cardiovasculares e auto-imunes, entre outras.
Condições Clínicas que se beneficiam do uso de Cannabis Medicinal
Ansiedade
Insônia
Stress pós traumático
Obesidade
Autismo
Cancer
Doenças inflamatórias intestinais
Doenças neurológicas (Epilepsia, Esclerose Lateral Amiotrófica, Alzheimer, Parkinson, Discinesia)
Doenças Auto-imunes (Esclerose Múltipla, Lúpus, Artrite Reumatóide, PEA)
Dor crônica, Fibromialgia, Artrites, Enxaqueca
Osteoporose
Glaucoma
Endometriose
Anorexia
Acne, Dermatites, Psoríase
Transtorno Obsessivo Compulsivo
Alcoolismo e outras Drogadições
HIV
Vias de Administração
Se você quer usar a Cannabis com fins Medicinais, use sempre produtos comerciais de fonte idônea, pois assim sabemos a concentração de CBD e THC, e sem o perigo de intoxicação por agrotóxicos (que são lipossolúveis e se concentram nos óleos extraídos), metais pesados, fungos, bactérias, solventes. Assim, comprar maconha de fonte desconhecida não é seguro. Existem muitos poluentes escondidos e substâncias misturadas, podendo gerar efeitos maléficos à sua saúde.
Inalada: fumo ou vaporizadores. A combustão de qualquer substância gera produtos tóxicos (CO, amônia) aumento da produção de radicais livres, que são inflamatórios. No uso recreativo é a via mais usada ("Fumar maconha") mas deve-se levar em conta o aumento do risco de cancer e doenças respiratórias. O vaporizador (cigarro eletrônico) atenua o calor e entre os dois é a melhor alternativa, mas ainda sim inferior a outras vias. Outro ponto contra é o cheiro que deixa no ambiente. A vantagem é o início rápido de ação (5-10 min).
Oral: o problema é a absorção variável e também o efeito de primeira passagem pelo fígado que gera metabólitos de THC mais psicoativos (11—OH-THC). É a via com maior latência (maior tempo para início de ação- 60-180 min).
Tópica: cremes de Cannabidiol para artrite, dores musculares; Supositórios (pacientes com dificuldade de usar outra via, como crianças e idosos debilitados,ou quando se quer efeito local (colorretal); há também a via vaginal para tratamento de endometriose e dismenorréia);
Sublingual/ Mucosa Oral: a minha preferida, pois tem início de ação moderado (15-45 min) e não passa pela circulação portal (que leva nutrientes absorvidos nos intestinos para o fígado).
Interações Medicamentosas
Infelizmente a Cannabis Medicinal interage com muitos medicamentos pois inibe as enzimas do citocromo P450 do fígado (que metaboliza a maioria dos fármacos). Com isso temos aumento dos níveis plasmáticos dessas drogas que não foram metabolizadas direito, aumentando o risco de efeitos colaterais das mesmas. Eu uso o database do drugs.com https://www.drugs.com/interaction/list/?drug_list=2758-0 ou https://go.drugbank.com/drug-interaction-checker para checar todas as interações dos meus pacientes. Assim ajustamos as doses de tudo ao iniciar o tratamento, e ficamos de olho em possíveis efeitos adversos. Também podemos substituir na mesma classe de fármacos (exemplo, troco a Sinvastatina pela Rosuvastatina, que não é metabolizada pelo Citocromo P450 CYP3A4, inibido pela Cannabis). Também contraindico o uso de Paracetamol com o CBD, pois eles competem pela mesma enzima (UDP-Glucuronosiltransferase) e pode aumentar hepatotoxicidade do Paracetamol.
Sou extremamente contra qualquer auto-medicação exatamente por causa disso. Os pacientes não têm idéia da quantidade de efeitos colaterais e toxicidade que estão expostos ao misturarem medicamentos.
É consenso na literatura: Start Low, Go Slow, Stay Low… ou seja, começar com baixas doses e ir aumentando aos poucos. Assim conseguimos determinar individualmente qual a melhor dose com mais efeitos desejados e menos efeitos colaterais.
Dependência de Cannabis
Qualquer droga ou fármaco tem potencial de abuso variável. O uso recreativo da Cannabis (fumar maconha, por exemplo) tem altos níveis de THC, que, por aumentar o mecanismo de recompensa dopaminérgico, leva à dependência. Tal como acontece com outras substâncias, a utilização continuada de elevadas quantidades de Cannabis faz com que o cérebro sofra um processo de adaptação e reduza não só a produção de endocanabinóides como também a sua sensibilidade à ação destes. Nesta situação, a sinalização do sistema endocanabinóide entra em déficit ao ser interrompida a utilização de Cannabis (abstinência). Como consequência, podem ser experienciados vários sintomas, como perturbações do sono e apetite, náuseas, dores de cabeça e irritabilidade. Estes cessam espontaneamente, ao ser restaurada a produção normal de endocanabinóides. De modo a evitar experienciar sintomas, é frequente a continuação da utilização de Cannabis (dependência), da qual resulta a exposição crônica. As seguintes manifestações podem ser indicativas de uma situação de dependência:
• desejo compulsivo e recorrente de utilizar a substância;
• vontade reduzir ou parar, mas não conseguir;
• negligência de outras partes da sua vida, como o trabalho;
• utilização continuada da substância, mesmo que cause problemas nos relacionamentos pessoais, profissionais, etc.;
• consumir a substância em quantidades maiores ou por mais tempo do que deveria.
O CBD, por outro lado, não apresenta características aditivas. Inclusive, tem-se demonstrado potencial terapêutico na prevenção de recaídas, em indivíduos que se encontrem em recuperação após um longo período de abuso de Cannabis, cocaína, opióides e álcool... A Magnolia ajuda a ativar os receptores CB1 para reduzir a abstinência do THC também.
Toxicidade
A natureza é tão perfeita que o centro da respiração não possui receptores CB1, ou seja, impossível ter parada respiratória usando Cannabis! Além disso, o THC é um agonista parcial, ou seja, se liga e ativa os recetores CB1 e CB2 mas não os ativa 100%. Isso traz uma margem de segurança grande à overdose. Mas poluentes na planta mal cultivada (fungos, pesticidas, metais pesados no solo) podem sim causar intoxicação. Por isso compre apenas Cannabis orgânica, de procedência conhecida.
Testes Genéticos
Existem testes genéticos que analisam como seu corpo responde a Canabinoides (utilizo o da Cannect , assim determinamos qual a melhor estratégia terapêutica.
Considerações Finais
O uso de Cannabis em menores de 25 anos deve ser avaliado, pois o cérebro ainda está em formação. A decisão do uso medicinal para epilepsia e autismo deve avaliar custo/ benefício.
Dependendo da dose ingerida e tolerância do paciente, não é recomendado dirigir e operar máquinas pesadas.
Por aumentar os efeitos do álcool (reduz sua metabolização), pode exacerbar hepatopatia, depressão respiratória e ressaca. Idealmente não se deve consumir Cannabis quando se consome álcool.
Sou médica prescritora! Agende sua consulta online (link no menu do site)!
Sugestão de Video
Amo o documentário do Dr Mechoulam e a História da Descoberta do THC, CBD e do Sistema Endocanabinóide! Descontraído e só 60 min! Vale a pena!
The Scientst - no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=SIi1k5LPTBA
Referências
“A Mente que se abre a uma nova idéia jamais voltará ao seu tamanho original.”
- Albert Einstein
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